sexta-feira, 8 de agosto de 2025

 

AS MAMAS, O LEITE E A MAMAGEM

Crónica de um país ao sol (e à sombra da estupidez)

Acordei cansado. Não daquele cansaço bom, de quem trabalhou, mas do cansaço de viver num país onde a ignorância tem likes, as mães que amamentam são tratadas como criminosas de produtividade, e a “época dos fogos” parece mais importante que o combate aos incêndios. Aquele cansaço de quem trabalhou arduamente, mas o repouso desconfiado do guerreiro que sabe que o dia lá fora é, provavelmente, mais perigoso que a própria guerra. Fiquei uns minutos na horizontal, a folhear — no ecrã, claro — as novas e as velhas notas de uns quantos onlookers e frequent social media  publishers.

 


Nada de especial: umas ofensas involuntárias, uns sorrisos solitários (sim, rio-me sozinho, como um tolo), muita ingenuidade e, sobretudo, a já habitual falta de conhecimento histórico e político. É fascinante ver como, neste pequeno planeta em que vivemos, há quem escreva com a confiança de um sábio… mas com a ignorância de um nabo.

A incultura política é o novo desporto nacional. A falta de nexo, a credulidade infantil — “naif”, como se gosta de dizer —, as opiniões disparadas como se fossem tiros certeiros… e que afinal só acertam no pé. Não se pode querer um país de cidadãos com refinada literacia financeira, capazes de entender os sonhos febris da senhora Lagarde ou os arremessos noctívagos de um Trump narcísico que parece nunca dormir.

Como diz a psicóloga Filipa Mendia, na “Tríade da Psicopatologia” mora o narcisismo (falta de empatia, orgulho e egoísmo), o maquiavelismo e a psicopatia. Um condomínio completo, hoje habitado por boa parte dos que julgam governar-nos — mas que, na prática, nos destroem… e talvez nos levem à aniquilação global.

A manhã até começou com sol — prenúncio de esperança, pensei eu. Ingénuo. Bastaram uns minutos de televisão e rádio para perceber que o dia ia ser ruim. Lá estavam eles, os profissionais da trapalhada, a falar de “governar” sem a menor ideia do que é servir o País e os que ainda por cá resistem.

E eis que surge o escândalo do dia: as “mamas e mamagens” ilegítimas. Não, não se trata de amamentação clandestina, mas de mães que, vejam só a ousadia, tiram duas ou três horas do trabalho para alimentar e acompanhar os filhos. Um abuso intolerável! Coitadas das empresas, obrigadas a pagar salários altíssimos, enquanto estas mães descaradas se atrevem a criar uma infância minimamente saudável. Felizmente, a senhora ministra do Trabalho, atenta como um cão de guarda, descobriu a artimanha. Não disse quantos casos havia — certamente mais de três — mas ficou clara a mensagem: a maternidade é uma ameaça à produtividade.

Entretanto, o país arde. Norte, centro… nada de novo. Há anos que alguém escreveu que se devia ter criado oficialmente a “época dos fogos”, como temos a dos "Festivais", das "Vindimas de Palmela", dos "Festivais de Caneças", "Albergaria dos Doze", "Freixo de Espada à Cinta", do "Nos" e da "Cerveja Sagres" (o Meo do Sudoeste faliu, coitado do tão abençoado genro do Cavaco) ou do "melão de Almeirim". Agora até se ouve que vão gastar 17 milhões para adaptar uns C-130 velhos para combate a incêndios. Uma genial ideia do não menos genial, o nosso senhor castrense Ministro Melo. Um crime: assim arriscam-se a estragar a nossa nova tradição sazonal.

E as guerras? Ah, isso fica para outro dia. Ainda não decidi se chamo nomes ou se mando simplesmente alguns foder-se.

O sol já vai alto. Por aqui me fico, aguardando que, ainda hoje, em alguma rede social, alguém me acuse de “putinista”, “comunista” ou “ignorante”. Aguento tudo. Talvez até intente um processo contra algum pavão político pela merda que faz em meu prejuízo e do país.

Enquanto o país arde, os pavões da política discutem mamas, mamagens e outros disparates, convencidos de que governar é servir-se. Talvez um dia eu decida processá-los. Ou talvez emigre e vá pastar caracóis para uma agricultura mais desenvolvida — pelo menos lá não me chamam “putinista” ao pequeno-almoço.

Ir pastar caracóis para uma agricultura mais desenvolvida. Quem sabe, até com wi-fi.


AV / Quartel em Venda da Porca (Estremoz) 08-08-2025


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

 

ESTA LISBOA QUE EU AMAVA

Lisboa: uma cidade perdida no desgoverno e no caos

Ontem percorri os bairros mais emblemáticos de Lisboa — Chiado, Camões, Trindade, Rossio e a histórica Baixa Pombalina — acompanhado por amigos que, tal como eu, ficaram profundamente consternados com o cenário que hoje se apresenta. A cidade que outrora encantava pelo seu charme, cultura e beleza está irreconhecível. O que encontramos é uma Lisboa tomada pelo abandono, pela gentrificação selvagem e pela desordem urbana.

A higiene urbana é praticamente inexistente. O lixo acumula-se em ruas e passeios esburacados, criando uma sensação de miséria e desleixo que desrespeita a memória e a dignidade desta cidade milenar. Onde antes florescia uma população residente vibrante, hoje sobram turistas e nómadas digitais que já pensam em abandonar o que outrora foi um refúgio aprazível. A população local, que dava vida às ruas e tradição aos bairros, foi escorraçada pelo aumento brutal do custo de vida e pela proliferação desenfreada de unidades de alojamento local, muitas delas à margem da legalidade, sem controlo ou fiscalização.

Lisboa transformou-se num parque temático selvagem, onde o turismo de massas, longe de ser um benefício, tornou-se um veneno que corrói a identidade da cidade. Comentários em órgãos de comunicação estrangeiros referem a crescente insegurança, a falta de habitação acessível e um sentimento de exaustão que pode levar à desertificação dos seus novos e antigos habitantes.

No centro deste desastre está um autarca cuja governação se resume a populismo barato e autopromoção. Carlos Moedas, saído das fileiras da Goldman Sachs e com um percurso europeu pouco claro, revela-se um político vazio, mais preocupado em discursar para as câmaras de televisão do que em governar com responsabilidade e visão. A sua recente alegação de ser “especialista em habitação urbana” a convite da União Europeia é uma farsa que ilustra bem o seu perfil: uma autêntica autoindulgência sem sustentação.

A verdade é que Lisboa está hoje entregue a um desgoverno que não respeita a sua história, nem a sua população. Uma cidade sem rumo, afundando-se na sujeira, na desorganização social e na perda de alma. Lisboa está transformada num circo onde os verdadeiros protagonistas — os lisboetas — foram postos à margem. O turismo desenfreado e a falta de políticas urbanas coerentes conduziram-nos a este cenário de degradação.

É urgente denunciar e combater esta canalha que, sob a capa de grandes decisões políticas, está a hipotecar o futuro de Lisboa. O desleixo é gritante e o sentimento de tristeza e impotência é geral. A capital portuguesa merece muito mais do que um gestor de vídeo e palavras ocas. Merece um projeto sério, respeitador da sua identidade e da sua gente. Até lá, Lisboa continuará a afundar-se num mar de lixo, incertezas e abandono.

Pobre Lisboa, que tem tudo para brilhar, mas que hoje é refém de quem a desgoverna.


AV/ 06-08-2025 Rua Poço dos Negros - Lisboa

segunda-feira, 28 de julho de 2025

 

A EUROPA DE CÓCORAS: VON DER LEYEN AJOELHA-SE A TRUMP

E ARRASTA OS 27 CONSIGO

Na paisagem verde da Escócia — fora do território da União Europeia, em plena propriedade privada de Donald Trump — Ursula von der Leyen apareceu de sorriso rasgado, a celebrar um acordo comercial. Uma cerimónia grotesca de vassalagem. E a Europa ajoelhou.

Não se sabe ao certo o conteúdo do suposto acordo. Sabe-se apenas que Trump, como de costume, ameaçou tarifas de 15% sobre bens europeus, exigiu que os Estados-membros aumentassem as suas compras de petróleo e derivados aos EUA, e ainda pressionou para que os europeus investissem em solo americano — ou sofreriam as consequências.


A Presidente da Comissão Europeia, sem rubor, cedeu. E cedeu sem mandato.

Não estamos perante uma acção diplomática. Estamos perante um acto político ilegítimo — e perigosíssimo. A Comissão Europeia tem competência exclusiva para negociar acordos comerciais, sim. Mas apenas com base num mandato expresso do Conselho da UE, e sempre sob supervisão democrática do Parlamento Europeu.

Von der Leyen não recebeu qualquer mandato conhecido para “negociar” em nome dos 27 Estados-membros com um presidente norte-americano em plena e permanente campanha eleitoral, assediado pelos escândalos do seu envolvimento em rambóias sexuais com menores, com o patrocínio do seu falecido amigo Brian Epstein. Não houve ratificação. Não houve consulta. Não houve sequer pudor.

Em vez de respeitar a arquitectura institucional da União, a Presidente da Comissão decidiu comportar-se como chefe de Estado de uma entidade supranacional que simplesmente não existe — uma Europa que não tem governo, nem primeiro-ministro, nem presidente com poder para comprometer os seus Estados em acordos unilaterais.

O que Von der Leyen fez na Escócia — em pleno intervalo entre tacadas de golfe de Donald Trump — não foi apenas simbólico. Foi um sinal claro de rendição a uma chantagem recorrente, que já se estende a outros domínios:

- Aumentem as vossas compras de petróleo americano.
- Comprem mais armas.
- Aumentem o vosso orçamento de defesa — desde que comprem “made in USA”.
- Aceitem tarifas punitivas, ou negociem ajoelhados.

E, como sempre, Trump ameaça, insulta, impõe — e a Europa cede, vergada pela mão de quem devia defendê-la.

O resultado? Uma hipoteca da soberania colectiva da União, feita em privado, sem escrutínio, em nome de todos... mas contra a vontade de muitos.

Mesmo que o alegado acordo não tenha efeitos jurídicos — por falta de ratificação dos Estados e do Parlamento Europeu — os danos políticos estão feitos. Porque o que está em causa não é apenas a legalidade: é a dignidade, a legitimidade e o respeito pelas instituições democráticas da União.

Von der Leyen já não age como presidente de uma comissão colegial. Age como se fosse presidente de uma República Europeia imaginária, sem controlo, sem eleição directa e, agora, sem respeito pelos limites do seu cargo. Como o fez em tempos, na conturbada pandemia e nos obscuros negócios das "vacinas Pfizer" - tudo ainda no segredo dos Deuses e dos suspeitosos gabinetes do Edificio Europa da Rue de La Loi no Bairro Europeu de Bruxelas.

E pior: fá-lo ao lado de um homem que já deixou claro, por palavras e actos, que despreza a União Europeia, os seus valores, os seus tratados, e os seus aliados — salvo quando lhe servem os interesses.

A Europa não pode continuar a aceitar esta humilhação silenciosa. Urge que os Estados-membros, os parlamentos nacionais e o Parlamento Europeu convoquem Von der Leyen à responsabilidade, exijam esclarecimentos formais, e travem esta deriva autoritária e personalista dentro da própria Comissão.

Se quisermos uma Europa livre, soberana e respeitada, temos de começar por rejeitar o autoritarismo dourado de Bruxelas e a chantagem suja de Washington. A liberdade constrói-se com coragem — não com sorrisos bajuladores em campos de golfe.

AV - Barão de Cacilhas - 28-07-2025

 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

 

"Até já, mano João"

Hoje, mais um ano passa e, com ele, o peso da saudade renasce. O meu irmão João completaria mais um aniversário. Todos os anos, neste dia, o meu estado de espírito muda. É impossível não ser tocado pela lembrança viva de alguém que deixou tanto em mim – e em todos os que com ele privaram.

O João era inolvidável. Um daqueles raros seres cuja presença enchia uma sala – não por ser ruidosa, mas por ser genuinamente viva. Tinha uma graça natural e uma bonomia contagiante. Sabia contar histórias como poucos – sempre picarescas, sempre divertidas – e arrancava-nos lágrimas... de tanto rir. Quando estava entre amigos, era como se o tempo abrandasse, como se o mundo se tornasse mais leve.

Apesar das ausências, apesar das distâncias, havia entre nós uma amizade profunda, daquelas que não precisa de ser dita em voz alta para ser sentida. E é essa ligação que me aperta o peito hoje.

O João era engenhoso, um homem de uma inteligência prática admirável. Sabia viver. Foi só nos últimos tempos, com a saúde a fraquejar, que vimos o seu brilho esmorecer um pouco. Mas mesmo então, nunca perdeu a dignidade, nunca deixou de ser o João que todos amávamos.

Ainda hoje, quando o grupo de amigos se junta, o nome do João surge. Não há encontro onde não se evoque uma história, uma piada, uma lembrança. O João permanece, em cada memória, em cada gargalhada, em cada silêncio de saudade.


Neste dia que seria o da celebração de mais um ano de vida, tenho a certeza de que todos os seus amigos o recordam. E que essa lembrança, embora dolorosa, é também um consolo – porque o João deixou-nos o melhor de si.

Para todos nós, o João será sempre inesquecível. E ficará, para sempre, nos nossos corações.

Até já, mano João.

(António Ventura 17 de Julho 2025)

quarta-feira, 9 de julho de 2025

 

A VERGONHA DE MARCELO E A TRAGICOMÉDIA DA GOVERNAÇÃO

António Ventura

Num país que se quer democrático, transparente e respeitador dos princípios republicanos, é profundamente preocupante assistir à degradação progressiva da função presidencial. Marcelo Rebelo de Sousa, outrora visto como figura moderadora e atenta ao interesse público, revelou-se, na prática, um garante da continuidade política de um governo que chegou ao poder por vias que muitos classificam como um verdadeiro golpe judicial e palaciano.

Num tom cada vez mais embaraçado e forçado, sempre que se encontra diante de câmaras e microfones, o Presidente limita-se a reiterar o seu apoio ao governo, apelando a um alegado “tempo” para corrigir os erros herdados, executar o seu programa e avançar com reformas legislativas. Tudo isto com um descaramento que fere o bom senso e a inteligência de um povo cada vez mais perplexo e descrente. Marcelo garante que o Governo é para uma legislatura de 4 anos. E se o diz, vá-se lá saber como o poderá garantir.

O caso mais flagrante é, sem dúvida, o da Saúde. A ministra Ana Paula Martins tem vindo a protagonizar um desempenho que não pode ser classificado senão como desastroso. A sucessão de casos de má gestão, omissão e falta de capacidade política é gritante: partos em ambulâncias paradas à beira da estrada, cidadãos a morrer sem assistência atempada, um INEM em estado de colapso, promessas vãs e medidas improvisadas.

A ministra afirmou, com orgulho e alguma soberba, que vinha “pôr ordem na casa”. O que temos, em vez disso, é uma gestão que nem uma pequena mercearia conseguiria sustentar, quanto mais um Ministério com uma dotação orçamental superior a 16 mil milhões de euros anuais. A isto somam-se escândalos de pagamentos obscenos a médicos por intervenções ao sábado, sem qualquer critério transparente ou rigor técnico — uma espécie de elite médica a autogerir e a auto-premiar-se com dinheiro público.

Marcelo Rebelo de Sousa, perante tudo isto, permanece impávido. Em vez de exigir responsabilidade política, limita-se a repetir que o Governo “está a tratar de tudo”. O problema é que esse “tudo” parece cada vez mais resumir-se à sobrevivência política, à propaganda institucional e à manutenção de um status quo que já não serve os portugueses.

A sua insistência em referir que o Governo tem uma legislatura de quatro anos não é um apelo à estabilidade democrática, mas antes uma demonstração de conivência e resignação cúmplice. Ao proteger o poder instalado, Marcelo trai a função que a Constituição lhe reserva — a de vigilante supremo do interesse nacional.

Não posso deixar de afirmar, com toda a clareza: o Presidente da República já não tem condições políticas nem morais para concluir o seu mandato. Faltam-lhe oito meses, mas é imperativo que fique registado — para a História e para a consciência colectiva — o meu direito à indignação, de que não abdico, com todas as consequências.

Marcelo Rebelo de Sousa é, sem sombra de dúvida, o pior de todos os que, nos últimos tempos, ousaram classificar os portugueses de “tontinhos”, “ignorantes” ou “imbecis”. Declaro-o sem rodeios: Marcelo é um traste político — o maior responsável pela situação de degradação institucional, social e económica em que o país caiu.

Num país desperto, exigente e consciente, esta realidade seria intolerável. Mas enquanto imperar a resignação e a apatia, a vilania persistirá impune.

Pedreira dos Húngaros – 09-07-2025


terça-feira, 8 de julho de 2025

 

ONZE LONGOS ANOS NÃO MATAM, MAS MOEM

(António Ventura)

Não sei se José Sócrates é culpado ou inocente. Não sei se se deixou corromper ou se corrompeu outros. O que sei — e todos devíamos saber — é que, num Estado de Direito, qualquer cidadão é inocente até prova em contrário. E é precisamente aí que reside o problema central deste processo: até hoje, a culpa continua por provar, e o julgamento continua por acontecer.

Sócrates sempre foi um “animal feroz”, e continua a lutar para adiar, enfraquecer ou evitar o julgamento a que está sujeito. Mas, mais do que sobre ele, este caso diz respeito ao estado da justiça portuguesa. O que se passou no chamado “Processo Marquês” é, no mínimo, preocupante: mais de 300 juízes envolvidos, anos de inquéritos, milhões de euros gastos, uma acusação labiríntica, prazos que se arrastam, testemunhas que envelhecem e memórias que se apagam.

Independentemente do desfecho, a justiça já perdeu. Porque justiça tardia é justiça falhada. E porque este processo, mais do que esclarecer, serviu para alimentar a descrença num dos pilares fundamentais da democracia. Como confiar numa justiça que prende um ex-primeiro-ministro em direto nas televisões, mas que não consegue julgá-lo em mais de uma década?

José Sócrates não foi um primeiro-ministro qualquer. Reformador, moderno, polémico — o que se quiser. Mas isso não importa aqui. O que importa é que o Ministério Público, como acusador, tem o dever de provar a culpa. Não o contrário. E quando um procurador afirma que Sócrates “terá agora a possibilidade de provar a sua inocência”, não está apenas a inverter o ónus da prova — está a violar um princípio basilar do direito.

Mas o mais grave é que este caso é apenas um entre muitos. Todos os dias surgem notícias de novos casos de corrupção nas autarquias, nas empresas públicas, em organismos do Estado. Casos que se acumulam, que se esquecem, que prescrevem. O país assiste a tudo isto com uma mistura de resignação e fadiga. Porque há muito que percebeu que a justiça não é igual para todos.

Não se trata de defender Sócrates. Tal como não se trata de defender Duarte Lima, Cavaco Silva, Ferreira do Amaral, Mexia, Zeinal Bava, Paulo Portas, Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas, Dias Loureiro, Oliveira e Costa — ou qualquer outro dos muitos que, sendo presumivelmente inocentes ou oficialmente prescritos, continuam a pavonear-se impunes, como se nada tivesse acontecido.

O que se lamenta é o país que fomos permitindo construir. Um país onde os fundos europeus que deveriam ter desenvolvido o interior e modernizado o Estado foram desviados para paraísos fiscais, empresas de fachada e contas em nomes de terceiros. Um país onde se vive “à grande e à francesa” à custa de promessas vazias, de favores entre amigos e da eterna crença de um povo sereno, crédulo e obediente.

Como disse um venerando desembargador a propósito deste processo: “Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vêm.” Pois bem, venha então a prova. Venha o julgamento — mas venha um julgamento justo, célere e sério. Porque não é só Sócrates que está sob escrutínio. É a própria justiça portuguesa que está, neste momento, sentada no banco dos réus.

E, até ver, continua a ser ela quem mais falha.

Quinta Patiño – 08-07-2025

sábado, 5 de julho de 2025

 

“MONTENEGRÊS”: NOVO IDIOMA, VELHA CONVERSA

Montenegro em Madrid: quando a vergonha alheia fala mais alto

O Primeiro-Ministro de Portugal resolveu ir até Madrid, não em missão de Estado, mas para discursar no congresso do Partido Popular espanhol — e, vá-se lá saber porquê, achou boa ideia fazer uma espécie de discurso em “portunhol”. O resultado? Nem castelhano, nem português. Talvez um novo dialecto a que poderíamos chamar “montenegrês internacional”, algures entre o ridículo e o desnecessário.

É verdade que tentar falar a língua dos anfitriões pode ser um gesto simpático. Mas também é verdade que o ridículo, quando se tenta com demasiado esforço parecer algo que não se é, tende a fazer mais estragos do que favores. Para cúmulo, o português — uma língua lindíssima e oficial da República — teria sido perfeitamente compreendida (com tradução, se necessário ou talvez nem) e teria poupado os presentes a um espectáculo linguístico embaraçoso. E nós, cá de longe, à vergonha alheia.

Mas se a forma foi infeliz, o conteúdo não ficou atrás. Em vez de aproveitar o momento para mostrar visão ou dar alguma esperança, Montenegro preferiu fazer aquilo que parece ser o desporto favorito do seu Governo: criticar o anterior. Lá estava ele, num congresso partidário alheio, a maldizer os que vieram antes de si, como se estivesse num debate parlamentar da oposição... mas em Madrid. Talvez se tenha esquecido que é Primeiro-Ministro de Portugal, não apenas chefe de claque do seu partido.

Mais de um ano de governação depois, é curioso que ainda nada de relevante tenha para mostrar — a não ser um discurso gasto, colado com cuspo e cheio de frases-feitas sobre "a herança", "a dívida" e "o caos anterior". Tudo dito com aquele ar de missionário injustiçado, como se governar fosse um fardo que alguém lhe impôs à força. Coitado.


E isto não é um caso isolado. O Ministro dos Negócios Estrangeiros já nos tinha brindado recentemente com uma postura igualmente patética fora de portas. Montenegro apenas repetiu a fórmula, num tom mais rústico, (“rural”) como quem acredita que uma plateia estrangeira está ávida por ouvir que em Portugal nada prestava antes da sua chegada.

A verdade é simples: foi um momento de vergonha. Daquelas que nos faz mudar de canal, baixar o som ou suspirar com aquele misto de raiva e embaraço. Porque, goste-se ou não, um Primeiro-Ministro representa-nos a todos. E quando não está à altura, somos todos arrastados para o chão com ele.

É pedir muito que se governe com mais elevação? Que se fale melhor (em qualquer língua)? Que se represente o país com alguma classe? 

Ou será que, tal como no discurso, o conteúdo do Governo também está em portunhol?

 

AV/ Bairro das Galinheiras 5Jul25

terça-feira, 27 de maio de 2025

CAOS NOS AEROPORTOS: um retrato da falência governativa

Milhares de turistas são maltratados, a polícia está à beira do colapso e o silêncio do Governo é ensurdecedor. Esta é a nova normalidade num país que se desfaz lentamente.

Portugal assiste, impávido, ao colapso dos seus aeroportos. Milhares de turistas, que representam um contributo essencial para o nosso Produto Interno Bruto, aguardam horas para entrar no país, sem informação, apoio ou respeito. São filas intermináveis, caos nos serviços e uma evidente incapacidade de resposta por parte das forças de segurança e do Estado.

Enquanto isso, o Governo limita-se ao silêncio. A Ministra da Administração Interna não apresenta soluções. O Primeiro-Ministro ignora o problema. O Presidente da República opta por não intervir. Esta ausência de liderança num momento crítico revela o profundo vazio institucional em que o país mergulhou.

A polícia de fronteira, já esgotada, trabalha sob pressão máxima, sem meios adequados. A sensação de desorganização total é um convite ao descrédito internacional — e à quebra de confiança num país que vive, em grande parte, do turismo.

Ainda mais grave é a incoerência nas políticas de controlo de fronteiras. Em certos casos, cidadãos entram pelas fronteiras terrestres e aéreas com escasso ou nenhum controlo, enquanto os turistas esperam por horas. Há aqui uma falta de critério que exige explicações urgentes.

O país parece anestesiado. 

A atenção coletiva desvia-se para polémicas desportivas ou para a espuma dos dias, enquanto questões fundamentais sobre segurança, economia e soberania são negligenciadas. 

Esta incapacidade crónica de lidar com os problemas estruturais abre caminho à radicalização política e ao surgimento de forças extremistas que prometem o que o sistema já não entrega.

Portugal está a ser governado por inércia. E não basta apontar o dedo ao Governo atual. É um modelo de governação que já dura há demasiado tempo, indiferente às realidades do país e cada vez mais desligado das suas funções essenciais.

É preciso romper com esta apatia. Os cidadãos têm o direito — e o dever — de exigir respostas, responsabilidade e ação. Um país não pode viver de turismo e, ao mesmo tempo, humilha quem o visita. 

Não pode proclamar a democracia e entregar o Estado a uma elite surda e cega. 

Não pode viver de futuro quando ignora o presente.

António Ventura (JNcQUOI Beach Club /Comporta) 27Maio2025

terça-feira, 20 de maio de 2025

 

Até já, PEDRO

Pedro Nuno Santos é, ainda, um dos políticos mais sérios, corajosos e preparados da sua geração. A sua retirada da liderança do Partido Socialista representa muito mais do que um acto pessoal — é a consequência de um momento grave da nossa democracia, marcado por ataques à integridade, pela ascensão da extrema-direita e pela interferência de um Presidente da República que, ao precipitar a crise política, abriu as portas à instabilidade.

Com provas dadas enquanto secretário de Estado, ministro e líder partidário, Pedro Nuno nunca deixou de defender o superior interesse de Portugal. Sempre com coragem, verticalidade e uma noção de serviço público que escasseia no actual panorama político.

Ao sair de Belém, após se reunir com o Presidente, Pedro Nuno manteve a postura de quem não se dobra. A sua atitude foi de uma dignidade ímpar. Sai, sim, mas de pé. Com coerência e decência. Perde o Partido Socialista, perde a democracia, e perdemos todos nós — os que acreditamos numa sociedade mais justa, plural e solidária.



Sério, honesto, comprometido com o bem comum. Alguém que, sem medo, enfrentou as forças retrógradas e carregou, injustamente, o peso da ascensão da extrema-direita — essa mesma que tem sido amparada por uma elite sem rosto, enraizada em esquemas obscuros, alguns já à vista de todos, como os tentáculos de uma maçonaria desvirtuada.

PNS (como tantos o tratam) é a segunda vítima de um golpe orquestrado por quem deveria representar a estabilidade e a imparcialidade do Estado. Um golpe discreto, quase elegante na sua perversidade, levado a cabo pelo actual Presidente da República, que precipitou uma crise política com um objectivo claro: devolver o poder à direita que todos conhecemos — aquela mesma que, não há muito tempo, deixou um rasto de destruição social e económica no país.

Pedro Nuno não é um político qualquer. É um líder vertical. De palavra. De princípios. Com provas dadas na governação: como secretário de Estado, como ministro, e mais recentemente como secretário-geral do Partido Socialista. A sua postura, ao sair hoje do Palácio de Belém após a reunião com o Presidente — o mesmo Presidente do golpe — é de uma dignidade incomparável. Um gesto de hombridade política e ética que ficará registado na história recente da nossa democracia.

PNS merece o nosso apreço. Mas, mais do que isso, merece o meu respeito mais profundo. Porque, ao contrário de muitos, ele nunca jogou com disfarces. Foi sempre claro, directo, transparente. E essa integridade, hoje, parece ser crime entre gente que prefere a intriga à decência.

Pedro Nuno não terminou a sua carreira política. Longe disso. Esta é apenas uma pausa. Uma aprendizagem dura, sim, mas necessária. Aprendeu que confiar pode ser um erro, quando se lida com personagens de má índole, movidas por interesses obscuros. Aprendeu que a ingenuidade tem um preço alto.

Mas também sabemos isto: Pedro Nuno Santos sempre defendeu o interesse coletivo. Sempre teve Portugal à frente das suas prioridades. Com coragem. Com competência. Com sentido de Estado.

Agora, afasta-se. No próximo sábado, fá-lo com o peso de quem foi ferido pela injustiça e pelas campanhas de difamação. Mas fá-lo com a cabeça erguida. Para desgosto de todos os que acreditamos numa sociedade plural, justa, solidária — num país sério e habitável para todos.

Mas não. Esta não é uma despedida. É apenas um até já.

Pedro Nuno voltará. Com mais força, com mais maturidade, com mais clareza. Porque o fascismo, por mais que espreite, não passará. E será ele, com outros e outras de igual valor, a lembrar ao país o que é governar com verdade, com projecto, com decência.

Mas esta não é uma despedida. É um até já. Pedro Nuno não terminou. Aprendeu, resistiu e amadureceu. Regressará mais forte, e com ele a esperança num Portugal melhor.

Portugal adormeceu. Cinquenta anos depois do 25 de Abril, voltamos a correr riscos que julgávamos enterrados. Mas que o sono seja breve. Que o pesadelo não dure muito. E que despertemos a tempo de impedir o regresso do obscurantismo, da censura, da desigualdade. A tempo de salvar o que ainda é justo e livre.

Perdemos um líder. Ganha a extrema-direita, ganha a manipulação

Até já, Pedro


António Ventura - Pedreira dos Húngaros 20 Maio 2025

sexta-feira, 9 de maio de 2025

"Marcelo Nuno, o Grande Envergonhamento Nacional"

Há figuras que o tempo esquece. Outras que o tempo absolve. Mas há ainda aquelas que o tempo expõe, despidas do verniz, da pose e da propaganda, nuas diante da História. Marcelo Nuno — recuso-lhe deliberadamente o peso e o respeito do nome completo — pertence, sem margem para equívoco, ao terceiro grupo. 

É, com todas as letras, um embuste vestido de Presidente, um prestidigitador do afecto, um comediante de sacristia travestido de estadista.

Desde o início do seu consulado que Marcelo se entregou a uma representação grotesca de proximidade popular. Fez da Presidência um palco e de si mesmo um actor principal de uma peça pobre, de província. Era o Presidente dos afectos, diziam. Não. Era o Presidente da encenação. Um beija-mãos institucionalizado, um distribuidor compulsivo de beijos incómodos, um apertador de pescoços que, na ânsia de aproximação, esquecia-se da dignidade alheia — sobretudo das mulheres, que puxava pela nuca como se o toque presidencial fosse bênção, e não invasão.

Lembro-me — e o país também há de lembrar-se — da forma quase violenta com que cumprimentou o já debilitado Papa Francisco. Um puxão ríspido, um sorriso cínico, um gesto sem o menor traço de reverência. Não era afecto. Era exibicionismo. Narcisismo televisivo. Marcelo não age em nome da República. Marcelo age em nome de si mesmo. O povo, para ele, é audiência. A rua, o seu palco. A imprensa, o seu espelho.

Transformou o cargo de Chefe de Estado numa peregrinação permanente de ginjinhas, romarias e selfies. Caiu em plena feira, vítima do próprio folclore. Levado nos braços para receber socorro, foi o retrato acabado da Presidência que construiu: uma figura frágil envolta num circo mediático. Nunca houve solenidade. Nunca houve contenção. Houve apenas festa, espectáculo, pose.

Mas a tragédia nacional começou quando Marcelo decidiu deixar de ser apenas ridículo para passar a ser perigoso.

Foi ele — sim, ele — quem lançou as bases para o golpe institucional que viria a derrubar um governo com maioria absoluta. Com a cumplicidade da Procuradora-Geral da República, e através de uma encenação judicial obscura e ainda hoje mal explicada, Marcelo forçou a demissão de António Costa. Recusou, depois, qualquer solução interna. Não quis Centeno, não quis continuidade. Quis o caos.

Não porque o país estivesse ingovernável — mas porque o Presidente queria governar. E, não podendo fazê-lo directamente, empurrou-nos para eleições num cenário de instabilidade fabricada. Queria o seu bloco no poder. E fê-lo acontecer.

A chamada "vitória" da direita — essa Aliança Democrática sem alma nem substância — foi uma vergonha eleitoral mascarada de legitimidade. O PSD, liderado por Luís Montenegro, um político de quinta categoria, arrastou atrás de si o cadáver político do CDS, encabeçado pelo empertigado e vazio Nuno Melo, e a irrelevância folclórica do PPM. Mal ganharam, descartaram os aliados com a mesma leveza com que se muda de gravata. Um golpe político, montado por um escorpião de sorriso fácil, sentado em Belém.

Marcelo deu posse a um governo de incompetência inédita. À Defesa, Nuno Melo — que não governaria, com decência, um clube motard. Nas Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, o homem que, como secretário de Estado, patrocinou a privatização desastrosa da TAP, entregando a companhia de bandeira nacional a aventureiros estrangeiros — um camionista e um americano-brasileiro, investidor de ocasião. Um crime económico embrulhado em jargão de gestão.

Na Saúde, uma ministra inconsequente. Na Cultura, o vazio absoluto. No Parlamento, a desorientação. Este é o legado do homem que se julga timoneiro da democracia portuguesa, mas que agiu como um sabotador da estabilidade nacional.

E agora? Agora esconde-se. Sai apenas para um gelado no Santini, em Belém — sempre com o séquito jornalístico a postos, a registar a banalidade como se fosse Estado. Quando fala, fá-lo entre frases mansas e ameaças dissimuladas: avisa que não dará posse a governos que, na sua leitura superior, não garantam estabilidade. Marcelo, que se comporta como um monarca sem coroa, reivindica para si um poder moderador que já nem os reis do constitucionalismo ousavam exercer.

É este o mesmo homem que ajudou a escrever a Constituição de 1976. O mesmo que, nas cátedras universitárias, a ensinava com orgulho. Hoje, vilipendia-a sem pudor, com o zelo autoritário dos que julgam saber o que é melhor para o país — ainda que o país diga o contrário nas urnas.

Marcelo Nuno não é um democrata. É um beato autoritário, um saudosista de um Portugal onde se obedecia em silêncio e se aceitavam os destinos impostos pelos de cima. É um salazarento envernizado. Um escorpião, como bem o descreveu Francisco Balsemão. Um homem que não sabe, não pode, nem quer conviver com a pluralidade real da democracia.

A História — essa sim, paciente e implacável — há de julgá-lo. E será dura. Marcelo não será lembrado como o Presidente dos afectos. Será lembrado como o Presidente do fingimento. O arquitecto da instabilidade. O homem que quis mandar mais do que devia. Que agiu sempre como se Portugal lhe pertencesse. E que, ao final, se revelou aquilo que sempre foi: um actor menor com ambições de protagonista, um democrata de fachada, um perigo para a República.

Marcelo Nuno é a vergonha que ocupa o Palácio construído por Ludovice para D. João V. E como tal, será lembrado: não como o inquilino digno de Belém, mas como o usurpador do seu espírito.

(AV. Portas de Benfica – Porcalhota,  9 Maio 2025)




sábado, 3 de maio de 2025

 

Portalegre Merece Melhor

Há decisões políticas que, pela sua natureza, ofendem o mais elementar bom senso democrático. A nomeação de Manuel Castro Almeida como cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Portalegre da AD é uma delas. Não se trata aqui de um ataque pessoal, mas de uma exigência legítima de representatividade, de respeito e de coerência política.

Portalegre, capital do Norte Alentejo, tem uma identidade própria, feita de história, dificuldades e esperanças. Tem uma população que não abdica de ser ouvida, que não aceita ser tratada como cenário decorativo para ambições alheias. E, no entanto, é isso mesmo que esta nomeação representa: um desrespeito profundo por quem aqui vive, trabalha e vota.

Manuel Castro Almeida é um nome com percurso na política nacional, sim. Foi autarca em São João da Madeira, a centenas de quilómetros de distância. Que relação tem ele com Portalegre? Que raízes lançou nesta terra? Que causas locais defendeu alguma vez? Nenhuma. Vem agora, de forma artificial, encabeçar uma lista por um território que não conhece, que nunca defendeu e que, francamente, parece usar apenas como trampolim.

A política não pode ser um jogo de xadrez em que os peões — neste caso, os eleitores — são movidos ao sabor de estratégias partidárias que nada têm a ver com os interesses reais da população. Quando se ignora a ligação entre representantes e representados, mata-se uma parte essencial da democracia. Um deputado eleito por Portalegre deve ser alguém que conheça esta terra, que compreenda os seus desafios, que sinta na pele o que é viver no interior esquecido, longe dos centros de decisão.

Esta escolha levanta também uma questão inquietante: será que já não há, no seio da coligação que agora governa, quadros capazes, competentes e legitimados pelo território para representar Portalegre com dignidade? Ou será que o interior continua a ser visto como um espaço de menor importância, bom apenas para cumprir quotas eleitorais?

Os portalegrenses não são ingénuos. Sabem reconhecer quem os representa e quem apenas os usa. Esta nomeação deve ser repudiada, não por birra partidária, mas por uma questão de princípio. É tempo de dizermos basta a esta lógica centralista e oportunista. Portalegre merece melhor. O Alentejo merece respeito. A democracia merece autenticidade. 

Portalegre não é um Deserto Eleitoral

(Ilha de Man - AV 3Maio2025 )  



segunda-feira, 21 de abril de 2025


 FRANCISCO MERECIA MELHOR IGREJA

A minha Crónica de Homenagem a Giorgio Bergoglio
Não é possível ficar indiferente à notícia do falecimento de Giorgio Bergoglio — o Papa Francisco. Não é possível, mesmo sendo crítico constante, como aqui recentemente manifestei, não vir, na mesma sede e nesta mesma rede, comentar a perda de um homem bom, carismático, de grande humanidade, mobilizador e sério, que a Igreja Católica teve como seu líder por doze anos.
Giorgio Bergoglio foi muito além das suas obrigações e deveres como representante e guia espiritual dos 1,4 mil milhões de católicos — cerca de 17% da população mundial. Francisco foi um verdadeiro aglutinador de boas práticas e de sã convivência entre todos, nesta nossa casa comum. Nunca dividiu.
Sem nunca baixar os braços — e muito particularmente nos últimos anos, mesmo debilitado — arrastou-se penosamente pedindo a paz, clamando por solidariedade com os mais pobres e desafortunados. Admitiu, ainda no início do seu pontificado, que poderiam chamá-lo de "comunista". Não se importou. Seguiu em frente, determinado, com as suas três palavras de ordem: reconciliação, periferia e acolhimento — mensagens centrais das suas 47 viagens apostólicas.
Francisco é o homem que hoje desaparece. Uma personalidade que merece de todos o maior respeito e admiração. O Papa Bergoglio ficará para sempre inscrito na história conturbada desta nossa casa comum como um grande humanista. Um verdadeiro defensor do ser humano, em todas as suas vertentes. Sim, um político — mas um político pela paz, pela fraternidade, pela reconciliação.
O Papa Francisco é uma personalidade que não pode, nem será, ignorada. Foi um ser humano extraordinário e um defensor intransigente da paz e da concórdia. Neste dia do seu desaparecimento, multiplicam-se as homenagens por todo o mundo — de líderes políticos (alguns pouco sérios, mas enfim…), chefes religiosos das mais variadas confissões, figuras do desporto, da economia, da sociedade, da juventude e das organizações não governamentais, que tanto carinho receberam de Francisco.
Menos de vinte horas depois de me ter manifestado com uma das mais contundentes críticas a muitos representantes do clero — e reiterando tudo o que escrevi — deixo aqui a minha homenagem a Giorgio Bergoglio, na esperança de que o seu legado (ainda inacabado) possa servir de exemplo àquele que o suceder no secreto conclave dos cardeais.
Espero, sinceramente, que o seu sucessor esteja à altura do legado de Francisco. Este texto não pretende contrariar o que o autor escreveu anteriormente — apenas reforça a certeza de que Francisco merecia melhor Igreja.
Que descanse em paz.
Glória e respeito ao Papa que "veio do Fim do Mundo" 😢
(Roma, 21Abril2025 AntónioVentura)

  AS MAMAS, O LEITE E A MAMAGEM Crónica de um país ao sol (e à sombra da estupidez) Acordei cansado. Não daquele cansaço bom, de quem trab...