sábado, 5 de julho de 2025

 

“MONTENEGRÊS”: NOVO IDIOMA, VELHA CONVERSA

Montenegro em Madrid: quando a vergonha alheia fala mais alto

O Primeiro-Ministro de Portugal resolveu ir até Madrid, não em missão de Estado, mas para discursar no congresso do Partido Popular espanhol — e, vá-se lá saber porquê, achou boa ideia fazer uma espécie de discurso em “portunhol”. O resultado? Nem castelhano, nem português. Talvez um novo dialecto a que poderíamos chamar “montenegrês internacional”, algures entre o ridículo e o desnecessário.

É verdade que tentar falar a língua dos anfitriões pode ser um gesto simpático. Mas também é verdade que o ridículo, quando se tenta com demasiado esforço parecer algo que não se é, tende a fazer mais estragos do que favores. Para cúmulo, o português — uma língua lindíssima e oficial da República — teria sido perfeitamente compreendida (com tradução, se necessário ou talvez nem) e teria poupado os presentes a um espectáculo linguístico embaraçoso. E nós, cá de longe, à vergonha alheia.

Mas se a forma foi infeliz, o conteúdo não ficou atrás. Em vez de aproveitar o momento para mostrar visão ou dar alguma esperança, Montenegro preferiu fazer aquilo que parece ser o desporto favorito do seu Governo: criticar o anterior. Lá estava ele, num congresso partidário alheio, a maldizer os que vieram antes de si, como se estivesse num debate parlamentar da oposição... mas em Madrid. Talvez se tenha esquecido que é Primeiro-Ministro de Portugal, não apenas chefe de claque do seu partido.

Mais de um ano de governação depois, é curioso que ainda nada de relevante tenha para mostrar — a não ser um discurso gasto, colado com cuspo e cheio de frases-feitas sobre "a herança", "a dívida" e "o caos anterior". Tudo dito com aquele ar de missionário injustiçado, como se governar fosse um fardo que alguém lhe impôs à força. Coitado.


E isto não é um caso isolado. O Ministro dos Negócios Estrangeiros já nos tinha brindado recentemente com uma postura igualmente patética fora de portas. Montenegro apenas repetiu a fórmula, num tom mais rústico, (“rural”) como quem acredita que uma plateia estrangeira está ávida por ouvir que em Portugal nada prestava antes da sua chegada.

A verdade é simples: foi um momento de vergonha. Daquelas que nos faz mudar de canal, baixar o som ou suspirar com aquele misto de raiva e embaraço. Porque, goste-se ou não, um Primeiro-Ministro representa-nos a todos. E quando não está à altura, somos todos arrastados para o chão com ele.

É pedir muito que se governe com mais elevação? Que se fale melhor (em qualquer língua)? Que se represente o país com alguma classe? 

Ou será que, tal como no discurso, o conteúdo do Governo também está em portunhol?

 

AV/ Bairro das Galinheiras 5Jul25

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