“MONTENEGRÊS”: NOVO IDIOMA, VELHA CONVERSA
Montenegro em Madrid: quando a vergonha alheia
fala mais alto
O Primeiro-Ministro de
Portugal resolveu ir até Madrid, não em missão de Estado, mas para discursar no
congresso do Partido Popular espanhol — e, vá-se lá saber porquê, achou boa
ideia fazer uma espécie de discurso em “portunhol”. O resultado? Nem
castelhano, nem português. Talvez um novo dialecto a que poderíamos chamar
“montenegrês internacional”, algures entre o ridículo e o desnecessário.
É verdade que tentar falar a
língua dos anfitriões pode ser um gesto simpático. Mas também é verdade que o
ridículo, quando se tenta com demasiado esforço parecer algo que não se é,
tende a fazer mais estragos do que favores. Para cúmulo, o português — uma
língua lindíssima e oficial da República — teria sido perfeitamente
compreendida (com tradução, se necessário ou talvez nem) e teria poupado os
presentes a um espectáculo linguístico embaraçoso. E nós, cá de longe, à
vergonha alheia.
Mas se a forma foi infeliz, o
conteúdo não ficou atrás. Em vez de aproveitar o momento para mostrar visão ou
dar alguma esperança, Montenegro preferiu fazer aquilo que parece ser o
desporto favorito do seu Governo: criticar o anterior. Lá estava ele, num
congresso partidário alheio, a maldizer os que vieram antes de si, como se
estivesse num debate parlamentar da oposição... mas em Madrid. Talvez se tenha
esquecido que é Primeiro-Ministro de Portugal, não apenas chefe de claque do
seu partido.
Mais de um ano de governação
depois, é curioso que ainda nada de relevante tenha para mostrar — a não ser um
discurso gasto, colado com cuspo e cheio de frases-feitas sobre "a
herança", "a dívida" e "o caos anterior". Tudo dito
com aquele ar de missionário injustiçado, como se governar fosse um fardo que
alguém lhe impôs à força. Coitado.
E isto não é um caso isolado. O Ministro dos Negócios Estrangeiros já nos tinha brindado recentemente com uma postura igualmente patética fora de portas. Montenegro apenas repetiu a fórmula, num tom mais rústico, (“rural”) como quem acredita que uma plateia estrangeira está ávida por ouvir que em Portugal nada prestava antes da sua chegada.
A verdade é simples: foi um
momento de vergonha. Daquelas que nos faz mudar de canal, baixar o som ou
suspirar com aquele misto de raiva e embaraço. Porque, goste-se ou não, um
Primeiro-Ministro representa-nos a todos. E quando não está à altura, somos todos
arrastados para o chão com ele.
É pedir muito que se governe
com mais elevação? Que se fale melhor (em qualquer língua)? Que se represente o
país com alguma classe?
Ou será que, tal como no
discurso, o conteúdo do Governo também está em portunhol?
AV/ Bairro das
Galinheiras 5Jul25