Portalegre Merece Melhor
Há decisões políticas que, pela sua natureza, ofendem o mais elementar bom senso democrático. A nomeação de Manuel Castro Almeida como cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Portalegre da AD é uma delas. Não se trata aqui de um ataque pessoal, mas de uma exigência legítima de representatividade, de respeito e de coerência política.
Portalegre, capital do Norte Alentejo, tem uma identidade
própria, feita de história, dificuldades e esperanças. Tem uma população que
não abdica de ser ouvida, que não aceita ser tratada como cenário decorativo
para ambições alheias. E, no entanto, é isso mesmo que esta nomeação
representa: um desrespeito profundo por quem aqui vive, trabalha e vota.
Manuel Castro Almeida é um nome com percurso na política
nacional, sim. Foi autarca em São João da Madeira, a centenas de quilómetros de
distância. Que relação tem ele com Portalegre? Que raízes lançou nesta terra?
Que causas locais defendeu alguma vez? Nenhuma. Vem agora, de forma artificial,
encabeçar uma lista por um território que não conhece, que nunca defendeu e
que, francamente, parece usar apenas como trampolim.
A política não pode ser um jogo de xadrez em que os peões —
neste caso, os eleitores — são movidos ao sabor de estratégias partidárias que
nada têm a ver com os interesses reais da população. Quando se ignora a ligação
entre representantes e representados, mata-se uma parte essencial da
democracia. Um deputado eleito por Portalegre deve ser alguém que conheça esta
terra, que compreenda os seus desafios, que sinta na pele o que é viver no
interior esquecido, longe dos centros de decisão.
Esta escolha levanta também uma questão inquietante: será
que já não há, no seio da coligação que agora governa, quadros capazes,
competentes e legitimados pelo território para representar Portalegre com
dignidade? Ou será que o interior continua a ser visto como um espaço de menor
importância, bom apenas para cumprir quotas eleitorais?
Os portalegrenses não são ingénuos. Sabem reconhecer quem os representa e quem apenas os usa. Esta nomeação deve ser repudiada, não por birra partidária, mas por uma questão de princípio. É tempo de dizermos basta a esta lógica centralista e oportunista. Portalegre merece melhor. O Alentejo merece respeito. A democracia merece autenticidade.
Portalegre não é um Deserto Eleitoral