segunda-feira, 7 de março de 2022

AO MEU IRMÃO

Cá estou mais uma vez a recordar-te neste terceiro ano passado da tua partida.

Tantas coisas que perdeste neste tempo da tua ausência, meu querido e saudoso irmão.

Algumas, não terias evitado estou certo, de manifestares a tua alegria e satisfação mas, outras houve que de igual modo te insurgirias e repudiarias com o teu jeito firme e determinado.

Em todos os dias destes três anos passados não houve nem um só que não te recordasse com a saudade que já escrevi nos dois últimos. Todos os dias, como que numa prece matinal, recordo-te e tantas vezes só, convivo com a tristeza de não mais te ter. De não mais te termos.

Hoje, neste dia mau e sombrio de tanta angústia, preocupação e receios, cá estou de novo a celebrar-te. Para tanto que melhor poderia escolher do que um poema de Torga que, como tu, sempre traduziu a sua rebeldia contra as injustiças e o seu inconformismo. Tal qual tu mesmo, com o seu sempre devotado gosto pelo campo, pela aldeia e pelo nosso Alentejo.

Acreditando, Torga escreve sobre a ressurreição que tristemente não espero de ti.

“Porque a forma das coisas lhe fugia,

O poeta deitou-se e teve sono.

Mais nenhuma ilusão lhe apetecia,

Mais nenhum coração era seu dono.

 

Cada fruto maduro apodrecia;

Cada ninho morria de abandono;

Nada lutava e nada resistia,

Porque na cor de tudo havia Outono.

 

Só a razão da vida via mais:

Terra, sementes, caules, animais,

Descansavam apenas um momento.

 

E o vencido poeta despertou

Vivo como a certeza de um rebento

Na seiva do poema que sonhou”

 

Neste entretanto, invernio, seco de água e de esperança, continuarei a celebrar-te, até que juntos recontaremos as estórias de vida, rindo talvez, gargalhando ou chorando juntos que também desejamos. Sempre com o afecto de tantos anos.
 

Até já mano João!


(AV 8 de Março 2022)


  O GOLPE (Parte 1) O conhecido “golpe de Estado palaciano” é o tipo de golpe em que a tomada do poder se projecta e algumas vezes, di...