quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

 PEDRO SANTANA LOPES

Conheci Pedro Santana Lopes nos idos de 66/68, em sua casa no Bairro dos Olivais Sul, por diversas vezes, em visitas minhas a convite de seu saudoso Pai Aníbal Lopes que há poucos anos nos deixou.

Não se recordará de mim.

Ele, era um jovem estudante do início do ensino secundário. Jovem educado, numa família de princípios éticos, honestidade e educação. Também um pouco rebelde, característico da adolescência mas que indiciava segurança de atitude e convicção.

De seu Pai que recordo sempre que se me aflora à lembrança os tempos vividos, a muito aprender com ele, sinto uma enorme saudade e uma comovente gratidão pelo que me ensinou a ser um profissional e homem de bem. Eu, era ao tempo, trabalhador-estudante, bolseiro da Fundação Rotária Portuguesa.

Não conheço PSL na actualidade nem nos voltámos a cruzar em qualquer circunstância.

Nos muitos anos que se seguiram, cada um para seu lado, nunca nos reencontrámos.

Políticamente também, cada um de nós abraçou a ideologia que nos pareceu mais conveniente para o futuro de Portugal e dos Portugueses.

O Pedro, na social democracia (centro-esquerda como preconizada por F.Lassalle) – intervenções económicas e sociais do Estado para promover justiça social e bem-estar social, sindicatos e regulação económica, distribuição de renda mais igualitária e o compromisso para a democracia representativa. Creio que um férreo apoiante de Francisco Sá Carneiro.

Do meu lado, após o luto passado a partir do fatídico 4 de Dezembro de 1980 em Camarate, segui outro caminho, não muito distante, mas muito de centro-esquerda igualmente.

Acompanho toda a acção política nacional e em algumas, muitas vezes, arrepio-me do que se vai fazendo ao País.

Não prescindi nunca de acompanhar o percurso político do jovem PSL que conheci em muito jovem. Critiquei-o negativamente. De forma positiva, manifestei-me a favor do “enfant terrible” que chegou a primeiro ministro como sempre havia desejado. Reconheci-lhe os defeitos e regozijei-me com muitas das suas qualidades – são muitas.

Hoje, Pedro Santana Lopes, é um homem firme, politicamente conhecedor, sensato, talvez cansado das muitas lutas em que se envolveu e perdeu. Talvez em prejuízo do País. Certamente em seu próprio infortúnio.

PSL é hoje um autarca da “sua Figueira” que não sendo dele, ali granjeou apoios de vulto e por ali segue o seu trabalho autárquico. Parece mesmo que, muito tem feito pelo Concelho onde pela segunda vez preside aos destinos e orientação governativa local.

Pedro Santana Lopes, atravessa frequentemente os “desertos” que, ele próprio ou as vicissitudes o levam a percorrer mas, é claro que de cada vez que a sua voz se faz ouvir – e ultimamente pela sabedoria que a idade nos transmite - é ouvido com apreço. Pelo emnos por mim. Acontece comigo ainda que nem todos, como imagino, estarão de acordo.

PSL veio hoje manifestar-se sobre a crise política derivada da demissão do Ministro Pedro Nuno Santos, tecendo lúcidas opiniões sobre o futuro político imediato. Com serenidade, com experiência própria e grande capacidade política. Sem “mimimis”, sem ódios nem rancores.

Não conheço PSL na actualidade nem nos voltámos a cruzar em qualquer circunstância.

Saúdo Pedro Santana Lopes pela sua verticalidade actual. Seu Pai, o meu saudoso amigo Anibal Luis Lopes, sentir-se-ia hoje, ainda mais orgulhoso.

Pedro Santana Lopes não é, nunca foi o “bétinho” que chegou a político.


quarta-feira, 14 de setembro de 2022

AINDA SOBRE O MANICÓNIO...

VAN DER LEYEN - O DISCURSO VAZIO DE PROPÓSITO E SUBSTÂNCIA

Merece-me respeito qualquer intervenção da Presidente da Comissão Europeia. Por ser mulher, como ser humano de valor, sensível e plena de vontade de fazer bem. No melhor espírito democrático, mas ...

Aguardando pela chegada da hora exacta para ouvir e ver a sua intervenção de hoje, perante o Parlamento de Strasbourg, atentando no conteúdo e desde muito cedo com fracas expectativas é bem certo, ao cabo dos primeiros trinta minutos, nada ou quase nada de relevo retirei do mesmo. No final, concluí igual. 

As cores predominantes do ambiente da sala da capital alsaciana, o azul e amarelo, o traje sempre elegante da Presidente, a condizer, pareceram-me pretender-se identificar desde logo, a chegada de novo membro ao Clube para não dizer, freguês à freguesia. 

Bem sabemos que a adesão de novos membros ao Clube é questão de muita paciência e cumprimento de obrigações que, no caso, nada parece apontar como reunidas ou passíveis de estarem reunidas nos próximos dez ou quinze anos, para o tal a quem se criam altas expectativas. Sem sequer pensarmos nas questões fundamentais do exercício pleno da democracia, liberdade de associação política e comunicação social, justiça igual, etc, Mas enfim...

É sobre o conteúdo que me importa aqui vir hoje comentar, neste meu espaço livre e independente.

O discurso de Van der Leyen foi, na sua maior parte, de "mimimis", de comoção e louvores ao povo ukraniano que, não sendo de ignorar, não corresponde à realidade com que vivem os europeus. De nota, a presença da primeira dama da Ukrênia, a senhora Olena Zelenska que mereceu a saudação e louvor em directo. Das razões, incongruências e incapacidade dos responsáveis da União, no tratamento antecipado na iminência da guerra em vista de a evitar, nada disse.

E nada disse porque nada fez. Nada fizeram a não ser a manifestação sumptuosa e ridícula de subserviência aos EEUU, pretensamente líderes hegemónicos do mundo onde espalham a sua democracia, única forma política, capaz de criar a felicidade global.

A Presidente da Comissão, ocupa quase uma hora do seu discurso, sem uma única vez assumir que, como é conhecido, a UE não teve capacidade política para evitar a guerra que se estende por toda a Ukrânia e que poderá próximamente alargar-se.

Nada disse sobre a dependência externa, não só de energias como também de tudo o que provém da despudoradamente consentida "fábrica do mundo".

Apenas culpa Putin e nisso até estamos de acordo porque invadiu e destrói militarmente um país soberano e independente, criando miséria, drama e desepero a todo um povo, a todo um continente. Uma guerra que a Presidente asseguar que a Ukrânia vai ganhar.

A senhora Van der Leyen, no seu discurso sobre o estado da UE, confessa a sua determinação em endividar a Europa para resolver os problemas energéticos que o próximo inverno vai evidenciar - afinal Putin tinha razão.

E esse incómodo já o havia anunciado Putin, e a Gazprom no início das sanções que lhe foram impostas. Quase como uma provocação - " o Inverno será longo".

Os europeus, não tarde mas já, começam a manifestar o seu incómodo com o sofrimento que lhes é imposto pelas más políticas dos seus dirigentes que apenas têm servido para consentir a subserviência à sempre presente tentativa hegemónica dos Estados Unidos e da NATO que todos sustentamos, enquanto "organização militar defensiva" (permitimo-nos excluir aqui, o momento dos seus bombardeamentos de há 23 anos, sem o consentmento sequer do Conselho de Segurança). 

E Macron, quase outro Órban, - " Estamos vivendo o fim da era da abundância"... E agora na proclamada negação à construção do gasoduto transPirinéus. Uns a seguir aos outros, vêm os dirigentes europeus manifestando as mais ridículas posições, as mais inverossímeis atitudes e declarações que fariam tornar à cova os fundadores, pela vergonha.

Há muito que a UE não evidencia capacidade de se bastar políticamente. Há muito que no Velho Continente não sobressai um Estadista, com tino, com capacidade, com vislumbre, acção estratégica e determinante da política comum.

Mas tudo isto, será resolvido pelos altos dirigentes da UE que, com a grandeza e inteligência política que os caracteriza, mau grado os frios e difíceis tempos que se seguirão.

Justificando o título acima, sempre recordarei a cena que há anos me contaram, passada na Av. Brasil - No portão de baixo do Hospital Júlio de Matos, estava um internado que avisava um transeunte que no portão seguinte, um pouco mais acima iria encontrar um "maluco" que lhe pedia para se aproximar. Alertava-o para não se chegar a ele porque o iria esbofetear. Agradecido o passante continuou sem se dar conta de que pelo interior o mesmo havia corrido e estava no portão seguinte. Achou estranho e questiomou-se sobre o que quereria de novo. Aproximou-se e foi esbofeteado e com a manifestação do paciente psiquiátrico - "eu não o avisei ?" 

Entretanto, "slava Ukraina"

AV 14 Agosto 2022







 


domingo, 31 de julho de 2022

 TALVEZ POR ESTA VEZ PUTIN TENHA RAZÃO.

Não escutei na totalidade a entrevista que o Presidente da ENDESA Portugal deu no programa Conversa Capital da Antena Um no dia de anteontem.
Não porque o tema não me interesse mas apenas porque a um dado momento percebi que a minha incultura em economia-energias-formação de preços-subsidios- lucros assegurados etc etc não me permitiriam entender nada. Aliás, consumidor de energia eléctrica de um dos impolutos fornecedores que dá pelo nome de EDP (ele há tantos que nem sei qual - EDP ZERO / EDP Renováveis / EDP SU ), a entrevista a um gestor "de topo" da concorrente espanhola sempre me atrairia conhecer.
Mas houve uma parte da entrevista com a jornalista Rosário Lyra que me emudeceu. Triste como um vencido apenas registei o que Nuno Ribeiro da Silva fez saber a todos os portuguesinhos (perdoem os "inhos" que apenas identificam a nossa incapacidade e desvontade de lutar contra os continuados saques a que somos sujeitos desde há anos - "Um povo traído" como classifica e dá título, Paul Preston no seu ultimo livro sobre a Espanha dos últimos 50 anos e da democracia em que vive.
O gestor da Endesa nem sequer nos animou com a célebre "uma notícia boa" e "uma notícia má". Começou e terminou pela última - "A factura de electricidade dos consumidores irá ter um aumento de cerca de 40% já em Agosto". Chiça que é forte!!!
Mas Nuno... uma notícia dessas precisava de preparar os destinatários... - ainda por cima com tão vasta crise nas "urgências" hospitalares!
Não dá mesmo para brincar!
A incompetência da "serviçal UE" e dos seus líderes levar-nos-á a perceber que talvez Putin tenha razão quando assegurou há dias que os europeus (da sua débil e frouxa unidade), quando chegar o inverno e estiverem a badalejar não se esqquecrão de sair às ruas...
Talvez e por agora Putin tenha razão.
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quinta-feira, 28 de julho de 2022

 

DESTA VEZ NÃO VÃO TER HIPÓTESE - CUIDEM-SE CAMBADA


Há, da parte da oposição, uma férrea e ignóbil vontade em "queimar" os Ministros da Administração Interna José Luis Carneiro e das Infraestruturas e Habitação Pedro Nuno Santos.
Um longo historial de abjectos comportamentos de que ressaltam entre outros, os mais recentes - contra os ex Ministros Eduardo Cabrita e Azeredo Lopes. Mais recente ainda, Pedro Nuno Santos.
Não devo nada a nenhum deles. Não sou pago para escrever isto nem lambo botas a nenhum patrão que há décadas não tenho. Muito menos a políticos de quem não recebo, nem peço prebendas.

Não escondo as minhas convicções políticas nem as propagandeio. Apenas como homem livre, sem medos nem mimimis, expresso aqui o meu desprezo pela cambada que há anos vive à conta da política, que não sabe o que é o interesse nacional, apenas pretende destruir tudo o que se lhe oponha e os faça, irremediávelmente ter de esperar mais 4 ou 5 anos, pelo menos, para tentarem, mais uma vez, sentarem os seus anafados traseiros nos cadeirões do poder.
Desta vez porém, vão-se dar mal.
Pedro Nuno Santos e José Luis Carneiro não lhes vão dar hipótese.
Estão a trabalhar.
Portanto, CUIDEM-SE CAMBADA.

terça-feira, 26 de julho de 2022

 BRUXELAS E AS COUVES... 

ou as "New Tupperware Parties"®

Foi no confiado ano de 1946 que o americano Mr Tupper tentou espalhar pelo mundo e pela Europa em ruínas a sua invenção das embalagens herméticas e funcionais que haveriam de criar satisfação generalizada no acondicionamento de alimentos.

E, na década seguinte teríamos o verdadeiro boom da utilização do plástico em tudo ou quase tudo o que é o nosso dia a dia.

Do plástico nem vamos falar agora. Deixaremos para a véspera, se houver tempo, do último e derradeiro julgamento de Deus sobre todos os seres da Terra, que ajudámos a destruir para o insaciável crescimento num planeta finito.

Passaram 70 anos e também do fim da guerra que espalhou a morte e destruição por grande parte do planeta e particularmente pela Europa.

Quando a senhora Brownie Wise criou em 1951 o surpreendente plano de marketing directo a que chamou "Tupperware party" o resultado foi de extraordinária eficácia. A utilização de um sítio, uma reunião de interessados (no caso, mais interessadas), a discussão do produto e a sua apresentação, as dúvidas suscitadas pelas presentes, a demosntração de funcionalidade do artigo e as vantagens evidenciadas da sua utilização.

A Europa destruída, rápidamente se lançou na reconstrução e na constituição da nova ordem que prometia ter em vista a paz, a segurança e o progresso.

Seria enfadonho prosseguir aqui com a identificação de todas as iniciativas ocidentais para lograrmos alcançar o que o fim da guerra nos impunha.

Mas de todas, ressalta a criação da CECA e da CEE que depois, se fundou na Declaração de Schuman e que nos dias de hoje conhecemos por UE.

Mas não é da declaração do político nem da seriedade da sua proposta que quero aqui falar. Tampouco das embalagens herméticas e funcionais saídas da mente de Earl Tupper.

Falo do que mais parecem hoje, as "New Tupperare Parties".

Nas "old tupperware parties" as convidadas chegavam ao local de encontro e eram saudadas como amigas do peito, gente conhecida, comungando dos mesmos desejos e ambições. À chegada eram efusivamente e com espavento osculadas pela anfitriã, tantas vezes, acabadas de se conhecer.

As "New Tupperware Participants" já não têm dificuldade em encontrar o local para as frequentes realizações. O sítio é em Bruxelas no Bairro Europeu e as imensas e sumptuosas instalações permitem juntar centos de participantes, para comprar, vender, trocar, sugerir, votar e vetar, discutir e passear.

Nos sérios momentos que vivemos - talvez a minha insólita opinião - parece-me muito desajustada a forma alegre e quase de "forró" como os convidados, (leia-se comissários) são recebidos no "party". Beijos dois, um em cada face ou um apenas que é moderno, abraços, risos, imagine-se até algumas graçolas de circunstância são os condimentos para o início de uma qualquer discussão sobre a guerra, sobre o boicote ao fornecimento de energias, sobre os crimes perpetrados pelos actores da contenda, sobre o êxodo forçado de milhões de cidadãos inocentes, enfim um ambiente de pândega que me afecta a digestão política sobre o que, na actualidade nos preocupa.

Míngua de estadistas, ou talvez não.

Depois, um discurso final ou a observação atenta de uma qualquer comunicação em zoom ou através de outro meio electrónico, com a mensagem de um participante no "party" que não pode estar presente. Normalmente é aplaudido de pé em fim da dissertação.

Tudo dito para já, resta-me falar finalmente das couves. Pequeninas, levemente adocicadas, ricas em fósforo e ferro, Ideais para acompanhamento de pratos de cozinha sofisticada.

Esta brássica é considerada como originária da região de Bruxelas e para quem não conhece aqui se deixa a sugestão.

Bom apetite Europa Nossa !







domingo, 17 de julho de 2022

 

PARABÉNS PÁ !!!









Há pouco, pareceu-me ouvir um carro a chegar aqui a casa. Desatento, imaginei-te a sair e a chamares-me - "Toninho... Toninho....

Pura ilusão ou saudade. E depois desatei num corropio de lembranças das tuas chegadas, de sorriso às vezes, outras, sizudo de algumas apoquentações.

Merda, merda e merda!!! Não eras tu, como poderia ser (?).

Farias hoje, ou fazes na minha alma e muita saudade, os 83 anos. Que merda João!!! Tantos anos.

Depois de afastada a tristeza que vai corroendo os dias, lembrei-me que não quererias que este estado de alma se mantivesse. Afinal, para quê? Estás e estarás sempre aqui, na lembrança, na recordação, na lusitana saudade. E há quem não acredite, pasme-se, de tamanha ignorância e estupidez de tantos. É que não entendem mesmo caro João.

Não percebem que és único. Não entendem que para mim só há um. Que és o irmão e para o teu sobrinho, meu filho, és e serás o único tio. O tio João.

Não entendem ou fingem não compreender. Talvez por inveja de não terem tido um irmão como tive e tenho. Talvez porque nas suas mentes perversas e desprezíveis, a fraternidade, não lhes diga nada. A razão do amor fraterno, como pintou Bouguereau na sua tela. 

Mas enfim... há que enfrentar os humanos. Mesmo os que desconhecem os afectos recíprocos, que ignoram a gratidão, o sentimento que alimenta e nutre a amizade, a simpatia e a fidalguia entre os que se respeitam e se gostam. A nobreza do sentir.

E tu, foste um nobre. E um lutador jamais vencido, um vencedor afinal. Só perdeste uma vez, na luta contra a inversão da nossa inexorável finitude.

Mas hoje é dia de "parabéns". Mesmo onde estás, sentes eu sei que sentes o meu abraço e festa. Regozijo e felicidade (triste) de te haver tido como o meu irmão.

Só desperdiçámos os tempos que a vida nos teve separados.

Ontem falei de ti e rimos muito com as lembranças. Amanhã, depois e depois farei o mesmo com tantos outros. Não te direi com quem foi porque seria enfadonho, tantos são os dias e os companheiros que te recordam. 

Mas hoje prefiro o retiro. Só assim posso passar este dia do teu aniversário com a paz que tanto preciso, em reflexão, curtindo a saudade, revendo fotos, repassando pela mente os momentos e as nossas histórias. 

Também me lembro do Pai.

Mas por agora não te escrevo mais. Falarei contigo em silêncio, em pensamento... com muita saudade.

PARABÉNS JOÃO !!!

quarta-feira, 27 de abril de 2022

NO 25A FUI VER OS PORTUGUESES

Talvez pela quadragésima vez, aprontei-me e lá fui ver os Portugueses.

O Marquês lá se ia compondo pelas catorze horas, as primeiras bandeiras, os assobios nem sei bem a quê, mas pronto...

Pelas três da tarde, mais coisa menos coisa, a turba iniciou a descida da Liberdade com a Chaimite sem nome a abrir caminho atrás da indispensável PSP que seguia na frente.

Estranho mesmo foi que, ao lado daquela, seguia outra peça igual, deitando fumo de escape, talvez precisando de uma pequena reparação de motor. 


Mas que importa se o significado da sua presença apenas era a exibição para os mais novos daquela viagem que fizeram de Santarém a Lisboa naquela "Madrugada que eu esperava, O dia inicial, inteiro e limpo, Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo" como tão bem escreveu Sophia nas horas seguintes.

Os tripulantes, felizes e bem fardados já não são heróis desta guerra. Talvez de guerras passadas com cravos também, pois claro.

Os Portugueses em festa, lá seguiram com as respostas aos muitos megafones - "fascismo nunca mais", "o Povo é quem mais ordena" e outros mais directos à política e políticos a atingir.

Os Portugueses, uns mais novos e outros bem menos, ordeiramente lá seguiam na "Festa dos 48" com o entusiasmo que talvez pais e avós calcorreraram igual a velha Liberdade. Falam de Maia e da Ucrânia. Também desta, as bandeiras estiveram presentes na mais inocente mas bem intencionada manifestação de apoio aos martirizados da guerra ou, "operação militar especial".

Solidariedade manifesta dos Porugueses que fui ver e conviver no passado 25A. E sempre presente nas horas de necessidade de apoio aos que tanto sofrem nesta solarenga primavera de Abril.

Pois então. Como nos velhos tempos do "Abril em Portugal".

Fui ver os Portugueses e senti que iam felizes, esperançados que o melhor ainda está para vir. Talvez...

Os Portugueses levavam cravos vermelhos como é vezo. Uns na lapela, outros no chapéu - que o Sol aqueceu - outras no decote. Nenhum vi com o cravo na mão. Talvez porque nenhum dos centos de milhares de Portugueses que vi avenida abaixo, pretendiam falsamente festejar. Esses ou esse, só o vi de manhã em Sam Bento, habitual, corriqueiro, fingido... 

Foi de manhã em S.Bento que mais uma vez não vi o "pequeno português", saudoso, raivoso e hidrofobo "cão" algarvio. Desculpem os meus muitos amigos sulistas. Também não faz lá falta nenhuma.

Fui ver os Portugueses e com eles sorri, calcorreámos a Liberdade com gosto.

No caminho, "qual formiga no carreiro vai em sentido contrário", estupefactos mas felizes com o Sol de Lisboa, os turistas regressados questionavam a que se devia a "manif". E a uns e outros, um qualquer lhes respondia - "the revolution day", "le jour de la revolution des oeillets"

No regresso, subi a avenida e cantarolei baixinho o "Tanto Mar" do Chico Buarque mas, a versão censurada que originalmente ele compôs para nos homenagear enquanto o País irmão vivia a ditadura.

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Em algum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

No 25A fui ver os Portugueses e voltei feliz. Não sei quantos mais lhes farei companhia, mas sei que lhes farei todos os que puder.

FELIZ !!!

(AV 25A 2022)

 




segunda-feira, 7 de março de 2022

AO MEU IRMÃO

Cá estou mais uma vez a recordar-te neste terceiro ano passado da tua partida.

Tantas coisas que perdeste neste tempo da tua ausência, meu querido e saudoso irmão.

Algumas, não terias evitado estou certo, de manifestares a tua alegria e satisfação mas, outras houve que de igual modo te insurgirias e repudiarias com o teu jeito firme e determinado.

Em todos os dias destes três anos passados não houve nem um só que não te recordasse com a saudade que já escrevi nos dois últimos. Todos os dias, como que numa prece matinal, recordo-te e tantas vezes só, convivo com a tristeza de não mais te ter. De não mais te termos.

Hoje, neste dia mau e sombrio de tanta angústia, preocupação e receios, cá estou de novo a celebrar-te. Para tanto que melhor poderia escolher do que um poema de Torga que, como tu, sempre traduziu a sua rebeldia contra as injustiças e o seu inconformismo. Tal qual tu mesmo, com o seu sempre devotado gosto pelo campo, pela aldeia e pelo nosso Alentejo.

Acreditando, Torga escreve sobre a ressurreição que tristemente não espero de ti.

“Porque a forma das coisas lhe fugia,

O poeta deitou-se e teve sono.

Mais nenhuma ilusão lhe apetecia,

Mais nenhum coração era seu dono.

 

Cada fruto maduro apodrecia;

Cada ninho morria de abandono;

Nada lutava e nada resistia,

Porque na cor de tudo havia Outono.

 

Só a razão da vida via mais:

Terra, sementes, caules, animais,

Descansavam apenas um momento.

 

E o vencido poeta despertou

Vivo como a certeza de um rebento

Na seiva do poema que sonhou”

 

Neste entretanto, invernio, seco de água e de esperança, continuarei a celebrar-te, até que juntos recontaremos as estórias de vida, rindo talvez, gargalhando ou chorando juntos que também desejamos. Sempre com o afecto de tantos anos.
 

Até já mano João!


(AV 8 de Março 2022)


  O GOLPE (Parte 1) O conhecido “golpe de Estado palaciano” é o tipo de golpe em que a tomada do poder se projecta e algumas vezes, di...