Até já, PEDRO
Pedro Nuno Santos é, ainda, um
dos políticos mais sérios, corajosos e preparados da sua geração. A sua
retirada da liderança do Partido Socialista representa muito mais do que um acto
pessoal — é a consequência de um momento grave da nossa democracia, marcado por
ataques à integridade, pela ascensão da extrema-direita e pela interferência de
um Presidente da República que, ao precipitar a crise política, abriu as portas
à instabilidade.
Com provas dadas enquanto
secretário de Estado, ministro e líder partidário, Pedro Nuno nunca deixou de
defender o superior interesse de Portugal. Sempre com coragem, verticalidade e
uma noção de serviço público que escasseia no actual panorama político.
Ao sair de Belém, após se
reunir com o Presidente, Pedro Nuno manteve a postura de quem não se dobra. A
sua atitude foi de uma dignidade ímpar. Sai, sim, mas de pé. Com coerência e
decência. Perde o Partido Socialista, perde a democracia, e perdemos todos nós
— os que acreditamos numa sociedade mais justa, plural e solidária.
Sério, honesto, comprometido
com o bem comum. Alguém que, sem medo, enfrentou as forças retrógradas e
carregou, injustamente, o peso da ascensão da extrema-direita — essa mesma que
tem sido amparada por uma elite sem rosto, enraizada em esquemas obscuros,
alguns já à vista de todos, como os tentáculos de uma maçonaria desvirtuada.
PNS (como tantos o tratam) é a
segunda vítima de um golpe orquestrado por quem deveria representar a
estabilidade e a imparcialidade do Estado. Um golpe discreto, quase elegante na
sua perversidade, levado a cabo pelo actual Presidente da República, que
precipitou uma crise política com um objectivo claro: devolver o poder à
direita que todos conhecemos — aquela mesma que, não há muito tempo, deixou um
rasto de destruição social e económica no país.
Pedro Nuno não é um político
qualquer. É um líder vertical. De palavra. De princípios. Com provas dadas na
governação: como secretário de Estado, como ministro, e mais recentemente como
secretário-geral do Partido Socialista. A sua postura, ao sair hoje do Palácio de
Belém após a reunião com o Presidente — o mesmo Presidente do golpe — é de uma
dignidade incomparável. Um gesto de hombridade política e ética que ficará
registado na história recente da nossa democracia.
PNS merece o nosso apreço.
Mas, mais do que isso, merece o meu respeito mais profundo. Porque, ao
contrário de muitos, ele nunca jogou com disfarces. Foi sempre claro, directo,
transparente. E essa integridade, hoje, parece ser crime entre gente que prefere
a intriga à decência.
Pedro Nuno não terminou a sua
carreira política. Longe disso. Esta é apenas uma pausa. Uma aprendizagem dura,
sim, mas necessária. Aprendeu que confiar pode ser um erro, quando se lida com
personagens de má índole, movidas por interesses obscuros. Aprendeu que a
ingenuidade tem um preço alto.
Mas também sabemos isto: Pedro
Nuno Santos sempre defendeu o interesse coletivo. Sempre teve Portugal à frente
das suas prioridades. Com coragem. Com competência. Com sentido de Estado.
Agora, afasta-se. No próximo
sábado, fá-lo com o peso de quem foi ferido pela injustiça e pelas campanhas de
difamação. Mas fá-lo com a cabeça erguida. Para desgosto de todos os que
acreditamos numa sociedade plural, justa, solidária — num país sério e habitável
para todos.
Mas não. Esta não é uma
despedida. É apenas um até já.
Pedro Nuno voltará. Com mais
força, com mais maturidade, com mais clareza. Porque o fascismo, por mais que
espreite, não passará. E será ele, com outros e outras de igual valor, a
lembrar ao país o que é governar com verdade, com projecto, com decência.
Mas esta não é uma despedida.
É um até já. Pedro Nuno não terminou. Aprendeu, resistiu e amadureceu.
Regressará mais forte, e com ele a esperança num Portugal melhor.
Portugal adormeceu. Cinquenta
anos depois do 25 de Abril, voltamos a correr riscos que julgávamos enterrados.
Mas que o sono seja breve. Que o pesadelo não dure muito. E que despertemos a
tempo de impedir o regresso do obscurantismo, da censura, da desigualdade. A
tempo de salvar o que ainda é justo e livre.
Perdemos um líder. Ganha a
extrema-direita, ganha a manipulação
Até já, Pedro
António Ventura - Pedreira dos Húngaros 20 Maio 2025