ESTA LISBOA QUE EU AMAVA
Lisboa: uma cidade perdida no desgoverno e no caos
Ontem percorri os bairros mais emblemáticos de Lisboa — Chiado, Camões,
Trindade, Rossio e a histórica Baixa Pombalina — acompanhado por amigos que,
tal como eu, ficaram profundamente consternados com o cenário que hoje se
apresenta. A cidade que outrora encantava pelo seu charme, cultura e beleza
está irreconhecível. O que encontramos é uma Lisboa tomada pelo abandono, pela
gentrificação selvagem e pela desordem urbana.
A higiene urbana é praticamente inexistente. O lixo acumula-se em ruas e
passeios esburacados, criando uma sensação de miséria e desleixo que
desrespeita a memória e a dignidade desta cidade milenar. Onde antes florescia
uma população residente vibrante, hoje sobram turistas e nómadas digitais que
já pensam em abandonar o que outrora foi um refúgio aprazível. A população
local, que dava vida às ruas e tradição aos bairros, foi escorraçada pelo
aumento brutal do custo de vida e pela proliferação desenfreada de unidades de
alojamento local, muitas delas à margem da legalidade, sem controlo ou
fiscalização.
Lisboa transformou-se num parque temático selvagem, onde o turismo de massas,
longe de ser um benefício, tornou-se um veneno que corrói a identidade da cidade.
Comentários em órgãos de comunicação estrangeiros referem a crescente
insegurança, a falta de habitação acessível e um sentimento de exaustão que
pode levar à desertificação dos seus novos e antigos habitantes.
No centro deste desastre está um autarca cuja governação se resume a populismo
barato e autopromoção. Carlos Moedas, saído das fileiras da Goldman Sachs e com
um percurso europeu pouco claro, revela-se um político vazio, mais preocupado
em discursar para as câmaras de televisão do que em governar com
responsabilidade e visão. A sua recente alegação de ser “especialista em
habitação urbana” a convite da União Europeia é uma farsa que ilustra bem o seu
perfil: uma autêntica autoindulgência sem sustentação.
A verdade é que Lisboa está hoje entregue a um desgoverno que não respeita a
sua história, nem a sua população. Uma cidade sem rumo, afundando-se na
sujeira, na desorganização social e na perda de alma. Lisboa está transformada
num circo onde os verdadeiros protagonistas — os lisboetas — foram postos à
margem. O turismo desenfreado e a falta de políticas urbanas coerentes
conduziram-nos a este cenário de degradação.
É urgente denunciar e combater esta canalha que, sob a capa de grandes decisões
políticas, está a hipotecar o futuro de Lisboa. O desleixo é gritante e o
sentimento de tristeza e impotência é geral. A capital portuguesa merece muito
mais do que um gestor de vídeo e palavras ocas. Merece um projeto sério,
respeitador da sua identidade e da sua gente. Até lá, Lisboa continuará a
afundar-se num mar de lixo, incertezas e abandono.
Pobre Lisboa, que tem tudo para brilhar, mas que hoje é refém de quem a
desgoverna.
AV/ 06-08-2025 Rua Poço dos Negros - Lisboa
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