Ninguém que me conheça ou me haja
lido, nas prosas modestas que alguma vez vim debitando, ignora as minhas
convicções políticas. Talvez mesmo, auto-caracterizando-me muitas vezes como um
perigosíssimo radical de esquerda. É assim. Fruto de muita vida vivida, de um
olhar que procuro atento, isento, descomprometido e sempre tentando o uso da
mais clara honestidade moral e intelectual, sem origens nessas ondas é bem
certo, a não ser a adolescência passada na “sinistra rive gauche” de que me orgulho.
Ninguém que me haja lido, por
aqui ou em http://desventuralusitana.blogspot.pt/
lá pelos idos de 2011, poderá ignorar quanto crítico fui, quanta crítica me
mereceu “José”.
Era tanta a vontade de lhe dizer
coisas que, em época mais tormentosa lhe escrevinhei as “cartas a José”, satisfazendo assim o ego, realizando dessa forma a
minha vingança de lhe botar na cara as minhas preocupações. Lançando-lhe para
cima a raiva e o sentimento do leão ferido que quase já não se levantava.
E o tempo mata a lembrança. O
tempo mata, esquece, perdoa, vinga, contempla e até honra alguns aqueles que alguma
vez atravessaram a ponte ao mesmo tempo que nós.
Foi assim com José. Com ele, juntos,
atravessámos um longo período da minha e da sua vida. Da nossa vida colectiva
também.
De tantas que à época lhe disse,
escrevendo sem que, provavelmente me haja lido sequer uma vez, muitos milhares
mais lhe haveria de ter dito.
Fica-me porém o reconhecimento
dos muitos milhares de feitos, históricos, representação política elevada e
decisões que em muito alteraram a nossa vida nacional para sempre. Ninguém é perfeito.
O seu legado não está porém
isento das culpas que sempre carregam qualquer sujeito e a sua actuação
política.
José está para durar…
Não. Não é o populismo que sempre
o caracterizou que, regressando agora aos écrans das televisões, me fazem mudar
de opinião.
Ele é um personagem que quer
queiramos quer não, marcou e continuará a marcar a imagem política do Portugal
moderno. Em crise permanente sim, em crises sistémicas desde há mais de um
século. Mas a sua notoriedade, capaz de catalizar, mobilizando toda a
comunicação social em qualquer momento que queira, decida explicar, essa é inquestionávelmente
indubitável.
Foi assim em 3 de Fevereiro de
2017, ontem exactamente na conferência de imprensa.
E se a notoriedade, é
inquestionável, também o foi, qual Trump Lusitano, surpreendentemente alegórica
a discriminação em directo de um “jornalista” de um certo canal que não teve
direito a perguntar.
José não teve direito a “directo”
nas perguntas e respostas dos jornalistas, na conferência de imprensa. Uma
lástima. A intoxicação está em todo o ar que respiramos.
Não merecemos mais nem melhor.
Talvez porque “há outros Trumps ocultos, maquiavélicos, e
que só não são tão perigosos porque não são presidentes dos EUA”.