MARCELO II – “O POPULARUCHO”
Passaram algumas décadas desde
que, eu próprio, na saudável relação de um casamento efémero ( mea culpa
), era frequentemente adjectivado de “muito popularucho”.
De facto, eram esses tempos em
que, a juventude, implicava as extravagâncias nos contactos e relações
pessoais, em negócios, em grupos de amigos ou mesmo desconhecidos. Sempre com a
permanente bonomia, a anedota, a graçola tantas vezes brejeira, o abraço e mesmo
a foto de grupo que, hoje britânica e parolamente soi chamar-se de “selfie”.
Todo esse comportamento,
reconheço-o hoje, era ridículo.
Marcelo II, porque sendo afilhado,
não é primeiro, nada aprendeu com o padrinho que usava a contenção verbal, a
declaração serena, a sobriedade permanente e apenas assertivas declarações no
momento certo. E tantas vezes, apenas nas dormentes “conversas em família”… E
que família !
Marcelo II e aqui, doravante
apenas Marcelo, não resiste, não se contém e descamba no convívio com a populaça,
com quem se perfilar na sua frente, seja o Zé, sejam altas figuras da política,
das artes, do desporto, da cultura, de uma qualquer rambóia que se evidencie. E
não se lhe apresente uma câmera de têvê ou um microfone de uma qualquer rádio,
de um “jornaleiro de serviço” ou de umas jovens debutantes na fina arte do
jornalismo.
Quando se confronta com estes,
Marcelo entra em absoluto êxtase. E inicia o habitual ror de banalidades, de
comentário inútil, trivial e frouxo de substância ou interesse verdadeiramente
mensurável, por insignificante.
Se é simpático? É !!! Marcelo
é popularucho pois !!!
A populaça adora ver a
performance de Marcelo. Uma “selfie”, um aperto de mão – sempre exageradamente
puxado para si – um abraço judoístico de aperto do pescoço, os beijos molhados
ou mesmo simulados levam, seguramente ao entusiasmo e, creio mesmo, a alguns
orgasmos, qual excitação fisiológica por tanto prazer.
Dir-se-á que, “Dez anos é
muito tempo, Muitos dias, muitas horas a cantar, Dez
anos é muito tempo, Deste tempo inteiro que eu vos quero dar”, como
cantou Paulo de Carvalho, mas não. Nunca será muito tempo para aprofundar até
ao limite, o carácter, mas sobretudo a ambiguidade estratégica da sua actuação
política.
Se entendermos que Marcelo
nunca nos desiludiu e foi sempre igual a si próprio desde a longa e premeditada
longa marcha para Belém, semanal e pontualmente perante as câmeras da televisão
no seu social, político e mexeriqueiro comentário, atribuindo valores na escala
académica de 1/20, a tudo e a todos, logo concluiremos que, F.P.Balsemão – o “lélé
da cuca” nas tiradas de Marcelo, é brando quando o compara ao escorpião da
lenda da rã que, disponível aceitou carregá-lo para atravessar o rio, sem
imaginar que iriam morrer os dois por ser da sua própria natureza, ferrar com o
veneno os que lhe fazem bem.
Marcelo atingiu ultimamente a
menoridade racional. No conceito kantiano, simula-se esclarecido, mas fala e
age a partir das opiniões que escuta ou sonha e nisso assenta a sua menoridade
racional.
Mas Marcelo é um homem muito
inteligente e sagaz. Associa à inteligência que lhe abunda, a perspicácia, a
destreza, a cultura, a argúcia e a fluência do seu discurso simples. Útil para o
povão entender tudo.
Diz o povo que “Quem diz o
que quer, ouve o que não quer”.
Agrava-se galopantemente a
ousadia e o folclore com que Marcelo gere a instituição a que preside.
Seria enfadonho, mas às vezes divertido
até, trazer aqui o ror de dislates, discursos e comportamento de Marcelo nas
últimas viagens, da qual ressalta, por actual, a da África do Sul. Vou-me
conter…
Ficar-me-ei pelas cómicas idas
ao Multibanco ou aos Gelados Santinni, ali por Belém para não descrever as exibições
natatónicas na praia de Cascais ou no atravessamento do Tejo.
Excuso-me a penitências, rezas
e promessas falsas.
Longa vida a Marcelo!
(AV 9-6-23 in http://desventuralusitana.blogspot.com/
em recusa consciente de utilização do “aborto” ortográfico)