A
VERGONHA DE MARCELO E A TRAGICOMÉDIA DA GOVERNAÇÃO
António Ventura
Num
país que se quer democrático, transparente e respeitador dos princípios
republicanos, é profundamente preocupante assistir à degradação progressiva da
função presidencial. Marcelo Rebelo de Sousa, outrora visto como figura
moderadora e atenta ao interesse público, revelou-se, na prática, um garante da
continuidade política de um governo que chegou ao poder por vias que muitos
classificam como um verdadeiro golpe judicial e palaciano.
Num
tom cada vez mais embaraçado e forçado, sempre que se encontra diante de
câmaras e microfones, o Presidente limita-se a reiterar o seu apoio ao governo,
apelando a um alegado “tempo” para corrigir os erros herdados, executar o seu
programa e avançar com reformas legislativas. Tudo isto com um descaramento que
fere o bom senso e a inteligência de um povo cada vez mais perplexo e
descrente. Marcelo garante que o Governo é para uma legislatura de 4 anos. E se
o diz, vá-se lá saber como o poderá garantir.
O
caso mais flagrante é, sem dúvida, o da Saúde. A ministra Ana Paula Martins tem
vindo a protagonizar um desempenho que não pode ser classificado senão como
desastroso. A sucessão de casos de má gestão, omissão e falta de capacidade
política é gritante: partos em ambulâncias paradas à beira da estrada, cidadãos
a morrer sem assistência atempada, um INEM em estado de colapso, promessas vãs
e medidas improvisadas.
A
ministra afirmou, com orgulho e alguma soberba, que vinha “pôr ordem na casa”.
O que temos, em vez disso, é uma gestão que nem uma pequena mercearia
conseguiria sustentar, quanto mais um Ministério com uma dotação orçamental
superior a 16 mil milhões de euros anuais. A isto somam-se escândalos de
pagamentos obscenos a médicos por intervenções ao sábado, sem qualquer critério
transparente ou rigor técnico — uma espécie de elite médica a autogerir e a
auto-premiar-se com dinheiro público.
Marcelo
Rebelo de Sousa, perante tudo isto, permanece impávido. Em vez de exigir
responsabilidade política, limita-se a repetir que o Governo “está a tratar de
tudo”. O problema é que esse “tudo” parece cada vez mais resumir-se à
sobrevivência política, à propaganda institucional e à manutenção de um status
quo que já não serve os portugueses.
A
sua insistência em referir que o Governo tem uma legislatura de quatro anos não
é um apelo à estabilidade democrática, mas antes uma demonstração de conivência
e resignação cúmplice. Ao proteger o poder instalado, Marcelo trai a função que
a Constituição lhe reserva — a de vigilante supremo do interesse nacional.
Não
posso deixar de afirmar, com toda a clareza: o Presidente da República já não
tem condições políticas nem morais para concluir o seu mandato. Faltam-lhe oito
meses, mas é imperativo que fique registado — para a História e para a
consciência colectiva — o meu direito à indignação, de que não abdico, com
todas as consequências.
Marcelo
Rebelo de Sousa é, sem sombra de dúvida, o pior de todos os que, nos últimos
tempos, ousaram classificar os portugueses de “tontinhos”, “ignorantes” ou
“imbecis”. Declaro-o sem rodeios: Marcelo é um traste político — o maior
responsável pela situação de degradação institucional, social e económica em
que o país caiu.
Num
país desperto, exigente e consciente, esta realidade seria intolerável. Mas
enquanto imperar a resignação e a apatia, a vilania persistirá impune.
Pedreira dos Húngaros – 09-07-2025
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