quarta-feira, 27 de abril de 2022

NO 25A FUI VER OS PORTUGUESES

Talvez pela quadragésima vez, aprontei-me e lá fui ver os Portugueses.

O Marquês lá se ia compondo pelas catorze horas, as primeiras bandeiras, os assobios nem sei bem a quê, mas pronto...

Pelas três da tarde, mais coisa menos coisa, a turba iniciou a descida da Liberdade com a Chaimite sem nome a abrir caminho atrás da indispensável PSP que seguia na frente.

Estranho mesmo foi que, ao lado daquela, seguia outra peça igual, deitando fumo de escape, talvez precisando de uma pequena reparação de motor. 


Mas que importa se o significado da sua presença apenas era a exibição para os mais novos daquela viagem que fizeram de Santarém a Lisboa naquela "Madrugada que eu esperava, O dia inicial, inteiro e limpo, Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo" como tão bem escreveu Sophia nas horas seguintes.

Os tripulantes, felizes e bem fardados já não são heróis desta guerra. Talvez de guerras passadas com cravos também, pois claro.

Os Portugueses em festa, lá seguiram com as respostas aos muitos megafones - "fascismo nunca mais", "o Povo é quem mais ordena" e outros mais directos à política e políticos a atingir.

Os Portugueses, uns mais novos e outros bem menos, ordeiramente lá seguiam na "Festa dos 48" com o entusiasmo que talvez pais e avós calcorreraram igual a velha Liberdade. Falam de Maia e da Ucrânia. Também desta, as bandeiras estiveram presentes na mais inocente mas bem intencionada manifestação de apoio aos martirizados da guerra ou, "operação militar especial".

Solidariedade manifesta dos Porugueses que fui ver e conviver no passado 25A. E sempre presente nas horas de necessidade de apoio aos que tanto sofrem nesta solarenga primavera de Abril.

Pois então. Como nos velhos tempos do "Abril em Portugal".

Fui ver os Portugueses e senti que iam felizes, esperançados que o melhor ainda está para vir. Talvez...

Os Portugueses levavam cravos vermelhos como é vezo. Uns na lapela, outros no chapéu - que o Sol aqueceu - outras no decote. Nenhum vi com o cravo na mão. Talvez porque nenhum dos centos de milhares de Portugueses que vi avenida abaixo, pretendiam falsamente festejar. Esses ou esse, só o vi de manhã em Sam Bento, habitual, corriqueiro, fingido... 

Foi de manhã em S.Bento que mais uma vez não vi o "pequeno português", saudoso, raivoso e hidrofobo "cão" algarvio. Desculpem os meus muitos amigos sulistas. Também não faz lá falta nenhuma.

Fui ver os Portugueses e com eles sorri, calcorreámos a Liberdade com gosto.

No caminho, "qual formiga no carreiro vai em sentido contrário", estupefactos mas felizes com o Sol de Lisboa, os turistas regressados questionavam a que se devia a "manif". E a uns e outros, um qualquer lhes respondia - "the revolution day", "le jour de la revolution des oeillets"

No regresso, subi a avenida e cantarolei baixinho o "Tanto Mar" do Chico Buarque mas, a versão censurada que originalmente ele compôs para nos homenagear enquanto o País irmão vivia a ditadura.

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Em algum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

No 25A fui ver os Portugueses e voltei feliz. Não sei quantos mais lhes farei companhia, mas sei que lhes farei todos os que puder.

FELIZ !!!

(AV 25A 2022)

 




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